quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Não se preocupe, aqueles que nos criticam e não acreditam em nós, um dia serão a prova viva do poder de Deus!

À beira de um charco, formosa borboleta, fulgurando ao crepúsculo, pousou sobre um ninho de larvas e falou para as pequenas lagartas, confusas:
- Não temam! Sou sua irmã de raça! Venho para lhes trazer esperança. Nem sempre permanecerão coladas às ervas do pântano! Tenham calma, fortaleza e paciência. Esforcem-se para não sucumbir aos golpes da ventania que, de quando em quando, varre a paisagem. Esperem! Depois do sono que as aguarda, todas acordarão com asas de puro veludo, refletindo o esplendor solar...

Então, não mais se arrastarão, presas ao solo úmido e triste. Adquirirão preciosa visão da vida, pois poderão subir muito alto e seu alimento será o néctar das flores... Viajarão deslumbradas, contemplando o mundo, sob novo prisma! Observarão o sapo que nos persegue, castigado pela serpente que o destrói, e verão a serpente que fascina o sapo, fustigada pelas armas do homem.

Enquanto a mensageira fez ligeira pausa, ouviam-se exclamações admiradas:
- Ah, não posso crer no que vejo!
- Que misteriosa criatura!
- Será uma fada milagrosa?
- Nada possui de comum conosco...

Irradiando o suave aroma do jardim de onde viera, a linda visitante sorriu e continuou.
- Não se iludam! Não sou uma fada celeste! Minhas asas são parte integrante da nova forma que a natureza lhes reserva. Ontem, eu vivia com vocês; amanhã viverão comigo! Flutuarão no imenso espaço, em vôos sublimes em plena luz. Libertas do lodaçal, se elevarão felizes. Conhecerão a beleza das copas floridas e o saboroso néctar das pétalas perfumadas. Contemplarão a altura e a amplitude do firmamento...

Logo após, lançando carinhoso olhar à família alvoroçada, distendeu as asas coloridas e, voando com graciosidade, desapareceu no infinito azul. Nisso chegou ao ninho a lagarta mais velha do grupo, que estava ausente, e, ouvindo os comentários empolgados das companheiras mais jovens, ordenou irritada:

- Calem-se e escutem! Tudo isso é insensatez, mentiras, divagações... Não nos iludamos! Nunca teremos asas! Ninguém deve filosofar... Somos lagartas, nada mais que lagartas. Sejamos práticas, no imediatismo da própria vida. Esqueçam-se de pretensos seres alados que não existem. Precisamos simplesmente comer e comer... Depois vem o sono, a morte... E o nada... Nada mais...

As lagartas calaram-se, desencantadas. Caiu a noite e, em meio à sombra, a lagarta-chefe adormeceu, sem despertar no outro dia. Estava completamente imóvel. As irmãs, preocupadas, observavam, curiosas, o fenômeno... Depois de algum tempo, para espanto de todas, a ignorante e descrente orientadora surgiu como veludosa borboleta, de asas leves e ligeiras, a bailar no ar...